Juiz garante alteração de registro a jovem que mudou de sexo em MS
Esta foi a segunda alteração pedida por meio da Defensoria Pública em MS.
Servidora nasceu homem, fez a cirurgia em 2010 e deve se casar este ano.
Agente fez a operação de mudança de sexo em 2010 (Foto: Francisco Gomes) |
“Foi como nascer de novo, foi uma batalha muito grande; agora é passado, agora é vida nova”, disse. A agente de saúde conta que desde criança achava que era diferente. A situação ficou mais evidente a partir da puberdade, quando começaram a crescer seios e os traços masculinos característicos não apareceram. “A família não entendia, achava que eu estava forçando, foi muito difícil; você se sente em uma ilha deserta”.
A família procurou orientação médica e descobriu que a jovem era pseudo-hermafrodita. No caso dela, órgãos internos masculinos e características externas femininas. Ela conta que o tratamento foi iniciado em São Paulo, pelo SUS, já que não há equipe multidisciplinar para esta cirurgia em Mato Grosso do Sul.
Exames foram feitos em São Paulo e cirurgia em Campo Grande (Foto: Francisco Gomes) |
A ação foi protocolada em outubro do ano passado e deferida no dia 11 de abril. Na decisão, o juiz José Ale Ahmad Net, alegou que "mostra-se inequívoco que, desde a tenra idade, o requerente age como se fosse mulher e assim tem vivido, comportando-se física e psicologicamente como tal".
SUS
Segundo a defensora pública Vera Regina Prado Martins as autorizações são concedidas pela Justiça em prazo médio de seis meses. Para os que não têm condições de sair do estado, uma alternativa é entrar com ação contra SUS, estado ou o município para acelerar o processo.
A primeira vez que um pedido de alteração de registro foi deferida em Mato Grosso do Sul foi em 2001, um caso pioneiro no país, segundo a defensoria.
Vera Regina acredita que a dificuldade em se fazer a cirurgia no estado possa explicar essa lacuna de tempo entre as duas ações. Segundo Vera, a transgenitalização – mudança de sexo - pode ser feita pelo SUS, mas é necessário que os hospitais tenham equipe multidisciplinar, formada por psicólogo, cirurgião, urologista e outros especialistas, acompanhamento que deve ser feito em prazo de dois anos antes do procedimento.
Planos
A servidora já usava o nome feminino desde os 15 anos. De estatura baixa e traços finos, ela disse que poucas pessoas sabem da situação. “Sempre fui muito reservada”. Por causa do trabalho como agente, ela tem muito contato com a população do bairro em que mora. Há três anos, a alternativa adotada pelo setor de saúde foi usar uma versão feminina do nome de registro.
A mãe da agente de saúde, conta que a filha chegou a namorar um rapaz por três anos, sem ter qualquer intimidade. Durante o tratamento, ela conta que a jovem enfrentou períodos de depressão. “A luta maior foi a psicológica, foi um desgaste muito grande”. Os documentos tiveram que ser remetidos para Marília (SP), onde foram feitos e devem chegar na segunda quinzena de agosto.
Após a cirurgia, o relacionamento terminou e, pouco depois, conheceu pintor de 28 anos, com quem pretende se casar daqui a dois meses. “Eu comecei a viver a partir do momento em que me olhei no espelho e me senti eu mesma'.
Agente de saúde pretende se casar daqui a dois meses (Foto: Francisco Gomes)
Fonte: G1
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