Folha de SP revela comparações de Madonna com Lady Gaga
Hoje não se falou em outra coisa: o tão esperado novo single da Lady Gaga que foi divulgado oficialmente no site da artista. (não ouviu? clique aqui)
Mas o que vem dominando a mídia do planeta inteiro é a associação que “Born This Way” possui com “Express Yourself” da Madonna.
Eu, particularmente, não vejo semelhança melódica alguma a não ser, claro, a mensagem transmitida: liberdade em se aceitar, amar e ser feliz.
O jornalista James Cimino da Folha Online publicou um texto que parece traduzir a real essência nessa semelhança, além de fazer uma análise comparativa entre Madonna e Lady Gaga. Confira:
.
A geração dos “sem Madonna”
“Eu nasci
assim.” A frase não é da canção “Modinha para Gabriela”, de Dorival
Caymmi, imortalizada na voz de Gal Costa. É apenas o título do novo
single de Lady Gaga (“Born this Way”), que acaba de vazar e já causa
polêmica por lembrar “Express Yourself”, o hit de Madonna de 1989 que
conclamava a geração oitentista a aceitar apenas o amor incondicional.
A canção de Gaga, podem aguardar, vai ser um hit e não é tão ruim quanto se diz, mas trouxe ao Twitter um conflito de gerações.
Quando
tuitei que o novo single de Lady Gaga se chamava “Eu nasci assim: sem
criatividade”, um jovem seguidor me comoveu com um apelo ao respeito
pela nova artista.
Em vários
“tweets”, ele questionou o seguinte: “Qual o problema em deixar que a
minha geração sinta tudo o que Madonna fez vocês sentirem? Será que na
época de vocês não tinham pessoas criticando Madonna? Nós não temos o
que vocês tiveram. É isso.”
A minha
crítica não é especificamente a Lady Gaga, mesmo porque, no artigo “Lady
Gaga e a Lojinha do Pop”, eu festejava a nova diva pop justamente pela
maneira criativa como fazia o pastiche dos ícones dos anos 1980 e 1990
em seus dois primeiros álbuns. No entanto, uma coisa se revela após o
lançamento do novo single de Gaga e do último disco de Christina
Aguilera: falta background a todas essas divas novatas.
Madonna é
fruto de uma geração modernista, que criava sentidos para expressar sua
insatisfação contra a ideologia dominante, repressora, castradora.
Estudou com
a coreógrafa Martha Graham, conviveu com Basquiat e Andy Warhol, tirava
notas altas na escola para conseguir dinheiro do pai e sempre usou a
sedução feminina de forma a subjugar os homens.
Foi para
Nova York vinda do interior, diz a lenda, com US$ 35 no bolso, morou em
espeluncas, trabalhou no Dunkin’ Donuts, quebrou a cara e adquiriu
experiência.
Com base em
sua educação católica e em toda a repressão que sofreu no seio
familiar, criou sua obra-prima “Like a Prayer”. Pela necessidade de
entender sua maternidade, criou “Ray of Light”; do medo da velhice e da
nostalgia das pistas de dança dos anos 1970 nasceu “Confessions on a
Dance Floor”. Da necessidade de ser dona de seu desejo sexual como são
os homens, criou “Erotica” e “Justify My Love”, cujos vídeos primam pela
sutileza e pelo sugestionamento sexual.
Não há uma
cena de nudez explícita nos dois vídeos, mas não houve menino daqueles
anos 1990 que não tenha corrido para o quarto após vê-la simulando
masturbação em uma cama de veludo vermelho com os cônicos e icônicos
corpetes de Jean-Paul Gaultier. “Eu soube que era gay quando vi ‘Justify
My Love’ pela primeira vez”, me disse certa vez um amigo.
Já Lady
Gaga, Britney e Aguilera são da geração pós-moderna, carente de sentido,
de ideologia e de educação formal. O caminho aberto por Madonna em
termos de comportamento feminino e homossexual deixou essa geração sem
ter o que contestar. Quando Gaga diz que “nasceu assim”, está falando
desses jovens frutos do determinismo histórico de Fukuyama: tudo está
feito, estamos presos a nós mesmos e nunca seremos sujeitos ativos sobre
nada, porque o problema e a solução está sempre no outro.
Enquanto
Madonna olhava para as tendências musicais do futuro próximo, as
engolia, misturava com suas questões existenciais e as regurgitava em
algo aparentemente novo, as novatas do pop parecem fazer o caminho
inverso e exatamente por isso são classificadas de plagiadoras.
Se Gaultier
traduzia Madonna em corpetes, Lady Gaga traduz as roupas de Alexander
McQueen e as bases musicais de Madonna, do Ace of Base e do Depeche Mode
em performance e música.
Madonna e
Michael Jackson eram os ícones que os outros analisavam, discutiam e
tentavam decifrar. Lady Gaga e as outras são exatamente o contrário.
Artistas carentes de sentido que buscam nos símbolos criados pelas
gerações passadas uma substância para sua performance muitas vezes vazia
e desesperada.
Lady Gaga é
boa. De todas as que estão aí, aliás, é a melhor. E isso se evidencia
quando ela, assim como Madonna, fala daquilo que é sua essência, como em
“Beautiful and Dirty Rich”, “Poker Face”, “Telephone” e “Paparazzi”.
Mas se continuar olhando para os sintetizadores dos anos 1990, vai
cansar logo.
Quanto à
carência de um ícone para chamar de seu do meu seguidor, recomendo que
não tente sentir o que sentimos com Madonna e Michael Jackson, assim
como foi inútil à minha geração tentar sentir o que eram os Beatles e os
Stones no auge. Esqueçam as divas que não se esquecem da Madonna, vão a
uma balada que toque LCD Soundsystem, Scissor Sisters, Cut Copy, La
Roux, Hurts, Adele, MGMT, Gorillaz, Cee Lo Green, Janelle Mónae e sintam
a boa música pop de sua geração. (Por James Cimino / @james_cimino) – matéria
0 comentários:
Postar um comentário